De acordo com relato do professor e de um aluno ouvido pela reportagem, Tavares explicava por que símbolos de estatais como a Petrobras apareciam na abertura de filmes nacionais, indicando que ali se tratava de apoio através da Lei Rouanet. Serviu de fomento para a polêmica as menções feitas sobre os filmes ‘Cidade de Deus’ e ‘Tropa de Elite’. Foi o gancho para Tavares argumentar que o problema das drogas no Rio de Janeiro era causado pela falta de enfrentamento dos políticos. Antes que a aula terminasse, a coordenação do colégio registrou uma ligação.
“A coordenadora me chamou para perguntar o que houve porque um pai ligou para dizer que eu estava fazendo discurso a favor de Lula e metendo o pau em Bolsonaro. Ele disse ‘resolva, resolva porque senão quem vai resolver sou. Eu vou aí com mais três pais armados e ele vai ver porque Bolsonaro é… pra ser presidente do Brasil’. E pá! Bateu o telefone”, narra Tavares no áudio.
Procurado por Época, ele confirmou a autenticidade do material. Acuado, todavia, pela repercussão do caso, limitou-se a acrescentar que estava estudando que providências iria tomar sobre o assunto — no áudio, ele afirma que iria registrar boletim de ocorrência — e preferiu não dar entrevista.
O episódio reflete a dimensão que o acirramento dos ânimos e as fake news tomaram nesta eleição. Um aluno que estava na aula relatou à reportagem que um colega abertamente pró-Bolsonaro já está sendo identificado como suspeito de ter acionado o pai e está enfrentando bullying. Mas ele mesmo ressalta que, apesar da acusação, não tem provas.
Diante da repercussão, a escola confirmou a versão do professor de que não houve debate político em sala de aula. A coordenação também admitiu a ligação, mas jogou a polêmica no terreno do trote. “A gente precisa apoiar o professor em tudo se houve uma ameaça, mas infelizmente, qualquer coisa que se fale se volta para questão política. Possivelmente foi um trote, mas temos que averiguar de verdade”, explicou Ana Cristina Dias.